terça-feira, 9 de março de 2021

Teletrabalho - O meu testemunho

Faz hoje um ano que estou a trabalhar em casa. Um ano a viver o “sonho” do teletrabalho de que só tinha ouvido falar e que era um conceito completamente desconhecido e teórico. Antes ninguém ficava a trabalhar em casa, mas sim a partir de casa. Sempre achei piada a esta construção frásica. Como se a primeira fosse de segunda (não resisti) ou como se “a partir de” desse a conotação de uma condição temporária e mais profissional. Contudo hoje ninguém trabalha a partir de casa, todos trabalham em casa! Pelo menos na consultoria. Trabalham de fato de treino e de pantufas. Escrevo este texto para dar o testemunho da minha experiência. 

A grande questão que se colocou, logo a seguir, quando parte do mundo ficou em teletrabalho foi a da produtividade. No meu caso foi mais ou menos fácil criar um escritório em casa para trabalhar. Fui um dos que teve de investir num sistema de rede melhor, pois o que servia para ver filmes HD não servia para ter reuniões sem “cortes”. Tendo condições para trabalhar, senti-me mais produtivo. 

As interrupções agora resumem-se a uma notificação no computador (fora as raras vezes em que me telefonam) que facilmente consigo ignorar, quero dizer, gerir. No escritório tenho de parar para dizer que agora não posso ajudar. Já quebrou o meu ritmo. O mal está feito. Ficava sempre surpreendido com o que conseguia fazer numa hora isolado sem interrupções. As interrupções não são devidamente valorizadas no seu impacto nefasto no trabalho do dia-a-dia. Mas estas em ambiente de escritório ninguém mede, ninguém se preocupa. Faz parte do trabalho. A produtividade tem de ser uma preocupação, independentemente do sítio onde se trabalha. 

Após um ano de teletrabalho sinto que fui mais produtivo, tanto em termos profissionais, como em termos pessoais. O tempo que poupo à hora de almoço, pois não tenho filas nem esperas, consigo por a minha leitura em dia. Para não falar do tempo que tenho livre após o trabalho. 

Mas nem tudo é pêra doce no teletrabalho. A rotina tornou-se ainda mais rotineira. Cada dia é igual ao anterior. A dinâmica de um ecrã não substitui a interacção ao vivo. O olhar pela janela não substitui o caminho para o escritório. A lâmpada não é o sol. E isto também faz mossa no corpo. O vídeo tornou-se na lufada de ar fresco que sentimos no final de uma série de chamadas apenas com as iniciais dos participantes. Mas caras estáticas também pouco interessam. Já não posso ver camisas brancas à frente… 

A diversidade do nosso dia-a-dia está inteiramente por nossa conta, o que pode ser assustador. Não vou falar do que não se pode fazer por causa do confinamento. Este é um ensaio sobre o teletrabalho e não sobre como trabalhar em confinamento. A vida em confinamento faz-me lembrar uma frase que um dia apanhei a fazer zapping num programa qualquer em que as pessoas têm de sobreviver sozinhas numa ilha deserta. Era algo do tipo: “Venho descobrir se eu sou boa companhia”. 

Várias empresas começam a questionar como voltar para o escritório. Uma grande responsabilidade, na minha perspectiva! Penso que só faz sentido ser opcional. Quem precisa desse ambiente deve poder acedê-lo, quem não precisa, deve poder ser livre de ir quando lhe convier. No mínimo espero que esta pandemia prove que em casa também se trabalha, igual ou melhor, e que temos de medir objectivos e deveres cumpridos e não o tempo despendido entre quatro paredes.

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